A verticalização é positiva para a cidade

Campo Grande tem uns 150 prédios com mais de 12 pavimentos atualmente e cerca de 700 prédios de 3 a 4 andares. Entre 4 e 12 andares, uns 200. Para uma cidade que tem quase 300 mil domicílios, convenhamos que é demais falar que tem de parar de construir edifícios altos na cidade, pois ela está muito verticalizada. O que são mil e poucos prédios em uma cidade gigante como Campo Grande?

Importante lembrar que dos 74 bairros existentes, 32 estão com taxas negativas e 18 já estão com taxas de crescimento anual abaixo de 1%. Embora a zona periférica Macrozona 3 tenha crescido a mais de 3 % ao ano, o volume populacional é menos da metade da Macrozona 2, e não é para lá ( MZ3) que a classe média dos bairros que perderam população migrou.

A verticalidade ocupa apenas 3% dos 35 mil hectares da área urbana da sede de Campo Grande. Quase nada. A eficiente infraestrutura, existente ou completada, com suas contrapartidas, às vezes elevadas, faz esses empreendimentos levarem serviços e melhoria de qualidade de vida ao entorno imediato e regional. 

Ora, minha gente, porque será que uma pequena parte da população de classe média está se manifestando contrária a prédios altos? O que leva as pessoas a achar que os mil edifícios altos, onde moram umas 12 mil famílias e tem uns 28 mil carros, são os vilões dos engarrafamentos ou ainda que são perniciosos para a cidade? Quais são as intenções dos setores que advogam que a cidade precisa rever o Plano Diretor de 2019, para que as construções altas sejam discutidas, pois estão iniciando um sufocante processo de verticalização na cidade?

O olhar sobre o problema, para mim, não está correto. Se quiserem enxergar, verão que não há nenhum problema em verticalizar. Se quiserem olhar de verdade, observarão que Campo Grande não é uma cidade vertical. Ao contrário. Ela é plana e espalhada.

A arquiteta Erminia Maricato já escreveu sobre isso quando fez o prefácio do mais importante trabalho científico sobre os vazios urbanos em 2015. Ela disse que “adensar a cidade é essencial, e para boa urbanização, verticalizar é fundamental para esse processo dar certo”. 

Discutir uma cidade real que tem baixa densidade urbana e altos índices de vazios em todas as regiões é, sim, fundamental. Revisitar os indicadores sociais de Campo Grande para identificar seus maiores problemas e suas maiores virtudes é muito importante. 

Entretanto, iniciou-se um movimento visando impedir a construção de edifícios em determinados bairros da cidade, apesar da legislação em vigor há anos dizer o contrário. É bem sistemático, em uma sociedade que tem pouco interesse na discussão coletiva, pensar às pressas e colocar seus problemas localizados, que poderão ter com o advento da construção de edifícios altos. 

Altos nem tanto. Por sinal. Não somos Balneário Camboriú e nem de longe seremos. Com quase 1 milhão de habitantes, vamos precisar alinhar as necessidades de todos e a vocação e a legalidade com os interesses sociais de setores e bairros que se expressam. Campo Grande precisa se adequar aos novos tempos do adensamento urbano para poder recompor sua malha e suas infraestruturas. Somente assim teremos uma cidade para todos.

Artigo assinado por Angelo Arruda – Arquiteto e Urbanista e Professor asposentado da UFMS

Publicado originalmente no jornal Correio do Estado em 26 de maio de 2025

Foto: Divulgação Governo do Estado de MS