O rock and roll já se aproxima do seu primeiro centenário e está em festa (pelo menos no Brasil). Nascido nos Estados Unidos na virada dos anos 1940 para os 1950, o ritmo que incendeia a humanidade surgiu da fusão incandescente entre o blues, o gospel, o country e aquela inquietação juvenil que só a música é capaz de expressar. E, apesar de ser frequentemente lembrado como território de homens brancos com topete, quem ajudou a erguer essa parede sonora foi uma mulher: Sister Rosetta Tharpe, a “Madrinha do Rock”. Ainda nos anos 30 e 40, Rosetta já plugava sua guitarra elétrica com distorção para pregar o evangelho e, sem querer, pavimentar o caminho que seria trilhado por Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard.

Décadas depois, em 13 de julho de 1985, o mundo assistiu estarrecido a uma celebração monumental: o Live Aid, megaevento solidário que reuniu Queen, Bowie, Clapton, Madonna, U2 e, claro, Phil Collins – o único artista a tocar nos dois palcos no mesmo dia, Londres e Philadelphia. Foi dele a frase que inspirou o batismo desta data no Brasil: “This should be the World Rock Day” (Este deveria ser o Dia Mundial do Rock). As rádios paulistanas 97 FM e 89 FM pegaram a deixa e começaram a promover o 13 de julho como Dia Mundial do Rock a partir de meados dos anos 1980, com maior impacto nos anos 1990. A Kiss FM, de São Paulo, também entrou na onda, comemorando sua estreia no dia 13 de julho, em 2001. Desde então, todo 13 de julho é pretexto para reafirmar a rebeldia, a nostalgia e a paixão de quem não vive sem guitarra alta.
Campo Grande tem muita história no rock

Se muita gente gosta de dizer que aqui é só chapéu e sofrência, a realidade é que a Cidade Morena tem mais bares de rock do que de sertanejo – e isso não é exagero, tampouco novidade. Nas últimas décadas, a cidade viu surgir uma legião de bandas autorais e covers, festivais underground, rádios especializadas e um público que não desgruda das camisetas pretas. Com isso, começaram a pipocar os bares onde essa turma pudesse se apresentar. Nos anos 90, hordas de jovens da periferia lotavam o centro para ver shows de punk e metal de bandas como Cólera, Ratos de Porão e também dos orgulhosos representantes locais: Katástrofe, Bizarros, DxDxO, S.A.M.
O saudoso Só Rock no Horto preencheu, durante muito tempo, uma importante lacuna ao trazer bandas como On The Road, Vertigo, Haiwanna, Hollywood Cowboys, Time Travellers, Stone Crow, Rivers, Guga Borba, Seven Four, entre outras, para tocar na Arena do Horto Florestal. Nos dias de evento, era uma avalanche de camisetas pretas, muitas compradas lá na Terror Rock Shop, na Feirona, banca do Enrique que, além de proprietário, também tem banda de rock: a DxDxOx (Dor de Ouvido).
Bares como o Chácara Bar, Stones e Bar Fly abriram o caminho para que tivéssemos tantos representantes do movimento hoje em dia. E já houve outros tantos que sucumbiram, mas deixaram saudades, como o Jack Music Pub, Old Motors, Al Capone, Bunker, Refúgio, Jimi Rock Pub, Hangar, Rota Acústica / Rota Botequim.

E o legado se fortaleceu: Blues Band, Bando do Velho Jack, Bêbados Habilidosos, Alta Tensão, Rivers, Jennifer Magnética, Lynks, Os Impossíveis e tantas outras abriram espaço para uma nova geração que continua reverberando nas caixas de som, como as ativíssimas On The Road, Rockfeller, A Arca, Haiwanna, Cabeças de Bagre, Stone Crow, PréPotentes, Naip, V12, Coquetel Blue, Monsters, Cassino Boogie, Codinome Winchester, Mullets, Beatles Maníacos, Walkírias, Kefla, Ya-Cults e muitas mais (é um exercício dificílimo lembrar de todas). Saindo da capital, o interior não fica atrás: Tonelada, Cueio Limão, Dagata e os Aloísios (todas de Dourados) provaram que no Mato Grosso do Sul o rock tem sotaque próprio.
E, para quem pensa que o cover reina no estado, vale lembrar que o Batalha de Bandas, festival unicamente de som autoral capitaneado por Ana Paula Ostapenko e Caio Dutra, já realizou uma dezena de edições, por onde passaram centenas de grupos (cada edição apresentava 10 finalistas x 10 edições = 100 bandas, além de muitas outras que não se classificavam).

Se existe um epicentro roqueiro hoje na cidade, ele atende pelo nome de Chácara Cachoeira. Ali, formou-se um verdadeiro cluster de bares dedicados exclusivamente ao rock: Cervejaria Canalhas, Irlandês Pub, Mirante Pub e Américo Bar. Quatro lugares próximos, uma só trilha sonora. E ainda tem quem ache que Campo Grande é só moda de viola.
Contando com os bares da Rua do Rock, pelo menos 21 endereços na cidade vivem exclusivamente do gênero, fora uma dezena que mescla estilos, mas sempre reserva espaço para guitarras distorcidas. Quer nomes para comprovar? Apresentamos, em ordem alfabética, primeiro os que são exclusivamente de rock e, depois, os que têm rock eventualmente:

Bares Exclusivos de Rock
- Academia do Chopp – @academiadochopp
- Américo Bar – @americobar
- Barô Bar – @baro.bar
- Black Beer – @blackbeercg
- Blues Bar – @bluesbarms
- Buteco do Miau – @butecodomiau
- Canalhas Cervejaria – @cervejariacanalhas
- Dinossauros – @dinossaurostriciclo2024
- Dragons Beer – @dragonsbeer
- Eden Beer – @edenbeercampogrande
- Elvira Rock Bar – @elvirarockbar
- Irlandês Pub – @o_irlandes_pub
- Koch Bier – @kochbiercervejariacg
- Lupland – @luplandbiergarten
- Mirante Pub – @mirante.pub
- Old Sheep – @oldsheep_steakbar
- Parrock Bar – @parrock_restaurante
- Porks – @porkscgsantafe
- Quokka Bar – @quokka.barbecue
- Sunset Growler – @sunsetgrowlerstation
- Trem Mineiro – @tremineiro

Bares que Têm Rock Eventualmente
- Bar do Mamede – @summerbeercg
- Choperia Imperial – @petiscariachoperiaimperial
- Chope Mestiço
- Copo Bar – @medaumcopo
- Don Menegazzo – @donmenegazzo
- Fazenda Churrascada – @fazendachurrascadacg
- Gastrota Parque dos Chefs – @gastrota
- Paraíba 73 – @paraiba73
- Pizza Pub – @pizzapubcg
- Vera’s Bar – @verasbarcg
- Zé Carioca Bar – @bar.zecarioca
Da era pré-streaming ao presente hiperconectado, Campo Grande nunca perdeu a verve de cidade roqueira. É por isso que, informalmente, a gente chama este lugar de Campo Grande Rock City.
No fim das contas, talvez o rock tenha mesmo essa capacidade de driblar estereótipos e unir tribos. Porque, no fundo, seja no Arkansas de Rosetta Tharpe, na Londres do Live Aid ou nas ruas do Chácara Cachoeira, o rock sempre foi sobre não se conformar – sobre sacudir as estruturas.
Neste dia 13 de julho de 2025, é dia de agradecer a todos que plugaram guitarras, ergueram copos e gritaram contra a mesmice. Como diria Christiane Torloni:
Hoje é dia de rock, bebê!
Guto Oliveira (@senhordosroles)