Rita Vieira: tradição, crescimento e o renascimento do Rádio Clube

O Rita Vieira é hoje um dos bairros mais promissores de Campo Grande. Se nos anos 1990 ainda era visto como um endereço distante do centro e conhecido como “Rita Poeira”, por conta das ruas sem asfalto, o cenário mudou rapidamente com a chegada da pavimentação e da infraestrutura. O que era visto como periferia passou a atrair investimentos e, nas últimas décadas, tornou-se um dos pontos favoritos para construção de casas e condomínios residenciais — muitos já erguidos, outros em andamento ou em fase de projeto.

O bairro guarda um contraste marcante: de um lado, ruas arborizadas e condomínios modernos; de outro, a memória de um passado recente em que o chão de terra e a sensação de afastamento ainda predominavam. A transformação trouxe valorização e hoje o Rita Vieira disputa espaço entre as áreas mais desejadas da cidade, chamando a atenção de investidores e famílias em busca de qualidade de vida.

Confira a história do segundo bairro da série de matérias que retratam o que cada um tem de interessante para oferecer. A escolha partiu da votação aberta no portal AmigosdaCidadeMorena.com.br.

Origem do bairro e do nome

A origem do bairro Rita Vieira remonta à década de 1980, quando a expansão urbana de Campo Grande começava a ganhar novos contornos. Em 1985, Zacarias Vieira de Andrade tomou uma decisão que mudaria a história daquela região: transformar sua fazenda de criação de vacas leiteiras em um loteamento residencial, seguindo o movimento que acontecia em várias áreas da capital. Nos anos 1980, Campo Grande vivia uma forte expansão urbana, impulsionada pela criação do novo estado, e buscava acomodar o crescimento populacional e a chegada de novas famílias em busca de espaço para viver e investir.

O nome escolhido para batizar a principal avenida e, mais tarde, o próprio bairro, carrega uma homenagem afetiva. Rita Vieira de Andrade, mãe de Zacarias, emprestou seu nome à via que se tornaria o coração do bairro, abrigando tanto residências quanto empreendimentos comerciais. A escolha não foi por acaso: além do vínculo familiar, o nome Rita Vieira evoca a história de uma mulher ligada ao pioneirismo da região.

Filha de Henrique de Menezes e Ana Vieira, imigrantes vindos de Minas Gerais, Rita Vieira nasceu já em solo sul-mato-grossense, sendo reconhecida como a primeira descendente dessa família mineira a ver a luz do dia no então território do Mato Grosso do Sul. Esse dado, aparentemente singelo, guarda grande simbolismo: representa o enraizamento de famílias que, vindas de outras partes do Brasil, ajudaram a escrever os primeiros capítulos da história da Cidade Morena.

Assim, mais do que um nome estampado em placas de rua, o bairro Rita Vieira carrega consigo uma memória de desbravamento e continuidade. A figura de Rita Vieira se eternizou na paisagem urbana, lembrando moradores e visitantes de que cada avenida, cada esquina e cada novo empreendimento erguido ali se apoia no legado de quem acreditou e fincou raízes naquela terra.

O ícone do bairro: o Rádio Clube Campo

Assim como a Santa Casa é símbolo do São Francisco, o grande ícone do Rita Vieira é o Rádio Clube Campo, fundado em 1924. O clube atravessou períodos de glória, de ociosidade e, recentemente, de retomada. Sua sede de campo, no coração do bairro, já foi palco de eventos memoráveis e, em 2024, voltou a ganhar vida com a comemoração dos 100 anos. O clube reuniu gerações em atividades esportivas e sociais, marcando um reencontro com sua própria história.

Na visita ao bairro, foi possível presenciar o campeonato brasileiro de jiu-jitsu acontecendo justamente ali, dentro das dependências do clube — uma cena que simboliza bem esse novo fôlego da instituição. O Rádio Clube Campo retoma sua relevância, não apenas como espaço esportivo e recreativo, mas também como patrimônio cultural e afetivo da cidade.

Infraestrutura e crescimento

O progresso do Rita Vieira se consolidou a partir da pavimentação das ruas, o que abriu caminho para o crescimento imobiliário. A melhoria da infraestrutura viária e a valorização dos terrenos colocaram o bairro em evidência, com valorização expressiva do metro quadrado. Hoje, além dos condomínios fechados, a região concentra um comércio em plena expansão, com comércio e serviços variados.

O bairro é atendido por vários mercados, sendo o Gauchão, o Rita Vieira e o Meu Mercado seus principais representantes. Conta com inúmeras conveniências, restaurantes e padarias como a Veneza, que inaugurou há pouco mais de um ano, a segunda de suas três lojas, sendo a primeira inaugurada na R. Antonio Maria Coelho.

Na educação, o Rita Vieira tem escolas particulares e é atendido pela rede pública por EE João Carlos Flores, EM Profª Iracema Maria Vicente, Ceinf Zacarias Vieira de Andrade e as particulares Esplendor do Saber e Biovilla, entre outras.

Acesso fácil e próximo ao centro

Com várias alternativas para chegada e saída do bairro, o Rita Vieira está numa região alta e de fácil acesso. A principal entrada é a Av. Rita Vieira de Andrade, por onde a maioria das pessoas chega ao bairro, ligada à R. Spipe Calarge e Toros Puxian, que se conectam à Av. Interlagos e Eduardo Elias Zahran. A Av. Bom Pastor, corredor gastronômico da Cidade Morena, também é rota alternativa, bem como a Av. Três Barras, outra importante veia comercial e gastronômica.

Loja Maria & Luccas nasceu no Rita Vieira

Personagens e histórias do bairro

A primeira visita foi à loja Maria & Luccas, empreendimento que nasceu no próprio bairro, na casa da proprietária Yara. Quem conversou conosco foi a Maria Isabel, indicada pelas colegas da loja do Comper Spipe Calarge, Helô e Gabriela. Ela conta que a dona montou a loja em casa e que com o sucesso das vendas, acabou abrindo em um lugar de grande movimento, que é o hipercenter Comper. Maria Isabel cita a festa junina como um evento que movimenta o bairro todos os anos, já virou tradição.

Já a proprietária Yara Freitas nos fala que quando ela montou a loja, todo mundo achava que era uma barca furada, por ser no “meio do nada”, num lugar sem asfalto e com poucas casas. Tinha mesmo tudo para dar errado, mas ela provou que com muito empenho e dedicação, dá para virar o jogo. Hoje, 13 anos depois, ela tem uma marca consolidada e duas lojas, uma no Hipercenter Spipe Calarge e outra em uma galeria na entrada do bairro. Ela mora há 18 anos no Rita Vieira e conta que resolveu vender roupas durante sua licença-maternidade, tendo se desligado de uma concessionária de veículos para investir em um negócio próprio, com o intuito de ficar mais tempo perto da filha.

Cãoteiner: petshop é um dos empreendimentos do bairro
Floricultura Canto Verde

Nesse tempo, ela testemunhou o crescimento espetacular do bairro e considerou ser importante estar à frente do desenvolvimento da região, tendo sido eleita presidente da associação de moradores, cargo que ocupa há 7 anos. Como presidente, ela se orgulha de ter batalhado muito para que o asfalto finalmente chegasse à maioria das ruas do então ”Rita Poeira”, que era o apelido negativo do bairro, antes da pavimentação.

Hoje, ela “briga” também por melhorias na infraestrutura das praças e dos lugares públicos, com grandes perspectivas de conseguir esses benefícios para uma população cada vez mais crescente, diante dos inúmeros condomínios e prédios que já existem e os que estão em fase de projeto. Ela conta que existem vários grupos de WhatsApp das ruas do Rita Vieira, onde os vizinhos se ajudam, alertam movimentações de estranhos e cuidam da segurança uns dos outros.

Claro que para saber onde ir e o que fazer no bairro, não poderíamos ter uma fonte melhor e a Yara cita o Cachorrão do Sol como um dos destinos da noite, junto com a Conveniência Santo Point e o Stop Burger.

Diego Araújo, gerente da Cãotainer, começou a trabalhar no pet em meados de 2019 e conta que quando chegou, não tinha nem asfalto nas ruas laterais, só na avenida principal. A infraestrutura era precária e apesar de já se desenhar como uma vizinhança de classe média/alta, no começo tudo era bem complicado, mas foi melhorando aos poucos. Hoje desfruta de um conforto viário muito bom, confirmado pelo colega Amarildo Moreira, que é responsável pelas entregas e pelo transporte dos pets dos clientes.

Diego diz que as principais avenidas do bairro, como a Rotterdam, a Mariza Andrade Vieira, Assunção e a Toros Puxian estão se tornando fortes veias comerciais. Ele cita o Restaurante Morumbi como um ótimo lugar para almoçar e disse que gosta do movimento noturno da Av. Rita Vieira.

Num cantinho florido da Av. Rita Vieira, encontramos o Roberto Machado e sua cunhada Aline Sanches. Eles tocam a Floricultura Canto Verde, um espaço bem agradável. Roberto conta que assumiu a loja esse ano, mas esteve presente e ajudou na montagem do negócio, há 4 anos, por ser amigo do antigo dono. Na época, o bairro não contava com a estrutura que tem hoje, mas Roberto diz que percebeu que ali era um bom lugar e quando o amigo ofereceu o negócio, ele não teve dúvida de que era uma grande oportunidade.

Encontramos o Willian passeando com seu cachorro e ele elogia o bairro, onde mora há 3 anos. Já encontrou tudo como está, tudo asfaltado e organizado. Ele costuma ir no Recanto Restaurante, gosta do Tomato, do Cachorrão do Sol e faz suas compras no Gauchão. Ele veio de São Bernardo do Campo, cidade que compõe a grande região metropolitana de São Paulo.

Outra moradora recente é Priscilla, que citou praticamente os mesmos lugares que o morador Willian. Ela está há 2 anos no bairro, tendo vindo de um lugar próximo, o bairro Tiradentes.

Descobrimos um casal muito simpático, vindo de um lugar bem distante e, no mínimo, inusitado: Célia e Imy vieram da Suécia, como ela diz “Para fazer um teste no Brasil e ficar mais próximo da minha família”. Imy está aprendendo português e diz que gosta muito da tranquilidade do bairro. Ele nos revela que enfrentou dificuldades no começo, por conta da diferença de cultura, mas que já está se adaptando. Eles montaram um salão de beleza com barbearia na varanda de casa e atendem a clientela do bairro. Célia, de fala expansiva, diz que gosta do senso de comunidade do bairro. Uma das coisas que eles gostam de fazer na cidade é visitar o Parque das Nações Indígenas nos finais de semana.

Um bairro de hábitos reservados

Diferente de regiões tradicionais como o São Francisco, o Rita Vieira tem uma dinâmica própria. O convívio comunitário nas ruas é menos frequente: os moradores costumam se concentrar em condomínios ou preferem o conforto da vida privada dentro de suas casas. É um hábito cultural que se consolidou com o tempo, o que não significa ausência de laços entre vizinhos. Pelo contrário: os grupos de moradores mostram como a comunidade se organiza, se apoia e fortalece o sentimento de pertencimento.

Rita Vieira, promessa de futuro

Com localização estratégica, comércio crescente e forte atração para novos empreendimentos, o Rita Vieira é um bairro que sintetiza o futuro de Campo Grande. Sua transformação em menos de três décadas é exemplo claro de como a infraestrutura e o investimento podem redesenhar territórios urbanos.

E, em meio a tantas perspectivas de crescimento, o Rádio Clube Campo segue como guardião da memória e símbolo da identidade local — lembrando a todos que, no Rita Vieira, tradição e modernidade caminham lado a lado.

Texto e Fotos: Guto Oliveira (@senhordosroles)