Há tempos não fazia um rolê tão intenso — ou mesmo insano, como nomeei o álbum de fotos e vídeos. Com a cidade repleta de eventos, já havia definido que a Noite da Seresta seria o primeiro destino desde que soube do retorno do projeto. O próximo seria o show “PantaNash – Country & Folk”, com Jonavo e Renato Pacheco, na Canalhas Cervejaria; e a noite terminaria ao som de rock nacional com Walkírias e muito blues com Bêbados Habilidosos, no Blues Bar. Que noite, senhoras e senhores, que noite!
Na sequência, o sábado foi dia de compromissos familiares, mas o domingo reservava espaço para o show de Vanessa da Mata no Parque das Nações Indígenas, pelo MS ao Vivo, com abertura do artista local Kalelo (e que abertura!). Depois, o destino foi, mais uma vez, a Canalhas Cervejaria, para curtir Roger Simmons Trio e Gabriel Noah, também no formato baixo, bateria e guitarra.
E esse foi o rolê mais incrível dos últimos tempos; mas, se você acha que só acontece uma vez na vida, já aviso que o próximo final de semana também promete ser de muita música boa e diversão!

Noite da Seresta com Wanderléa
O evento, resgatado após um hiato de 13 anos, sempre foi muito querido pela população, comprovado por shows lotados em várias edições que trouxeram artistas nacionais e locais de peso, nomes como Demônios da Garoa (2004), Sidney Magal (2004), Perla (2004), Oswaldo Montenegro (2008), Almir Sater (2009), Os Incríveis (2010), Martinha (2010), Demônios da Garoa (2011), Golden Boys (2011), Emílio Santiago (2011), Peninha (2012), Odair José (2012), Vadico & MJ6 (2013) e, curiosa e ironicamente, o último com o Grupo Acaba e a Orquestra Revoada Pantaneira (2013).
Para o triunfal retorno, a prefeitura escalou a eterna Ternurinha e musa da Jovem Guarda, Wanderléa! E foi muito providencial, porque, na próxima semana, 22 de agosto completa 60 anos da estreia do programa Jovem Guarda, seis décadas do movimento que colocou o rock definitivamente no mapa da música brasileira.
Ela começou o show cantando “Foi Assim”, música de outra lenda da Jovem Guarda, Wanderley Cardoso, outro octogenário (Wanderléa completou 81 anos em junho) e, de cara, emocionou o grande público que a aguardava, cantando lindamente. Depois, falou da gratidão de ver a Noite da Seresta de volta, após longos 13 anos de hibernação. Com a elegância de diva e a disposição de uma jovem senhora, seguiu mandando seus grandes sucessos da longeva carreira.

Para fechar o assunto Jovem Guarda, um dos grupos mais talentosos da Cidade Morena, a Coquetel Blue, realiza um show dedicado ao movimento na próxima sexta (22) no primeiro especial da banda campo-grandense, composta por Pedro Espíndola, Boloro, Leotta Reaidy e Perim. O show acontece na Canalhas Cervejaria e os ingressos estão à venda no Sympla, com link no perfil da banda. Se você gosta de rock, nem pense em perder: vai ser memorável, porque a banda manda bem demais!
PantaNash – Country & Folk, com Jonavo e Renato Pacheco
Permaneci por um curto período na Praça do Rádio, pois outro evento me aguardava: PantaNash, na Canalhas Cervejaria. No palco, dois grandes artistas da terra: Jonavo e Renato Pacheco. Para começo de conversa, preciso ressaltar: a produção de palco e iluminação estavam espetaculares!

Casa lotada. Cheguei com Renato Pacheco executando “One Horse Town”, da banda americana Blackberry Smoke, e a versão estava perfeita, com muita personalidade. Alguns sucessos depois, Renato comentou que é impossível fazer um especial Pantanal + Nashville sem citar o violeiro que colocou o Mato Grosso do Sul no mapa da música country pantaneira: Almir Sater. E o cartão de visitas não poderia ter sido melhor escolhido: “Comitiva Esperança”, de Renato Teixeira e Sérgio Reis, parceiros de Almir. Que voz tem o Renato! Rolou muita música boa e, para surpresa de muitos, pintou “Mulher de Fases”, do Raimundos. Logo depois, voltaram os clássicos do country americano.
Uma grata surpresa foi encontrar e conversar pessoalmente com o chef Bruno Xavier, dono de um dos perfis mais interessantes de dicas sobre rolês gastronômicos na capital. Ele apresenta, de forma descontraída e com muita qualidade, os melhores lugares — do café ao jantar elaborado — com simpatia e respeito pelas casas e suas histórias. Um ponto que chama atenção: ele afirma que não cobra para fazer a resenha, paga a própria conta quando deixam e, se você não conhece a casa que ele está apresentando, “você está fazendo o rolê errado”.
Concordo. Ele é um dos melhores influenciadores — senão o maior — de gastronomia do Estado. E entende do que fala: além de publicitário de formação, é chef de cozinha por paixão.
Voltando ao PantaNash, outro clássico sul-mato-grossense incendiou a Canalhas: “Palavras Erradas”, do Bando do Velho Jack, em releitura espetacular de Renato — como não poderia deixar de ser, acompanhada por muitas vozes da audiência.
Achou pouco? Com a volta de Jonavo (ele havia feito a abertura) ao palco, os dois cantaram juntos a música do grande Zé Geraldo, “Senhorita”, em versão country de altíssimo nível. Essa é daquelas músicas que ressoam na alma de todo amante da boa música.
Eles retomaram os clássicos do country, com a ressalva de que Jonavo estava limitado por conta da garganta — o que não o impediu de seguir cantando e encerrar o belíssimo show com “Take Me Home, Country Roads”, do inesquecível John Denver. A música voltou no bis, deixando todos com gostinho de “quero mais”.
Uma apresentação impecável, prestigiada por uma plateia animadíssima que, diga-se, foi a caráter: muitos chapéus, botas e camisas xadrez — um espetáculo à parte. Parabéns aos dois grandes artistas locais, Jonavo e Renato Pacheco. Que este PantaNash seja o primeiro de muitos. Gratidão à Canalhas por acreditar na realização deste showzaço.


Walkírias e Bêbados Habilidosos no Blues Bar
Terminado o show na Canalhas, o próximo destino foi uma das mais tradicionais casas da capital, o Blues Bar. O show da banda Walkírias trazia a música dançante do Cidade Negra, “A Sombra da Maldade”, com um convite muito sugestivo: “permita que o amor invada sua casa, coração”. É ou não é uma boa pedida?
Tenho que dizer: meu amigo Rui Nélio, vocalista e líder dessa trupe maravilhosa, é dono de um carisma gigantesco. Rui canta, toca, dança e diverte a plateia, muito bem assessorado por Carlos Eduardo (guitarra), Frank (baixo), a competente cozinha de sopros com Cheirinho e Rajiv, e o mais novo membro da banda, o baterista Carlos “Catito” Barros.
Com releituras empolgantes e cheias de suingue, associadas às bem-humoradas músicas próprias, o show não deixa ninguém parado: sucessos como “Geração Coca-Cola” (Legião Urbana), entremeados por “Polícia” (Titãs) e “Festa do Santo Reis” (o síndico e rei do soul, Tim Maia), casam perfeitamente com as autorais “Piraputanga”, “Eu moro do lado do Paraguai” e “São Rock”. um show eletrizante do começo ao fim. Walkírias não é só uma banda, eles se intitulam uma filosofia de vida — e pode apostar: é uma vida bem divertida. É um show que, definitivamente, você não quer que acabe, mas uma hora até eles têm que ir pra casa.
Embora seja um momento de tristeza momentânea, o fim do show dos Walkírias é a deixa para a entrada, no palco, de outra lenda sul-mato-grossense: os Bêbados Habilidosos.
O show dos Bêbados é uma performance carregada de emoção — primeiro, por levar adiante o legado do maior letrista de blues que este país já teve, Renato Fernandes. Suas composições são retratos do próprio cotidiano; Renato nos deixou em fevereiro de 2015, aos 54 anos. E também porque o vocalista atual, Sal, incorporou de tal forma a essência do blues que é inegável sua condição de herdeiro direto de Renato.
Parece filme, mas Felipe Saldanha contou que, certa vez, num show do Renato no antigo Stones, profetizou que um dia cantaria naquela banda — e isso aconteceu em 2022. Fã confesso, ia a vários shows só para vê-lo. O destino escreve certo, e Sal assumiu o vocal dos Bêbados com uma pitada de boemia e classe, cantando as canções de Renato com muita maestria. Na cozinha da banda, Rodrigo Queiroz é o único remanescente da formação original, que tinha ele, Renato nos vocais, Edney Costa na bateria e o gigante Marcelo Rezende no baixo.
Atualmente, a banda conta com o guitarrista Rodrigo, Juliano Gordão no baixo, Sal nos vocais e Eric Artioli na bateria. No show deste sábado, porém, Eric teve compromissos pessoais e foi substituído por Felipe Lira — que merece destaque especial.
Explico: Juliano e Rodrigo fizeram apresentações magníficas, como de costume. São dois músicos já consagrados na cena local, que fazem um trabalho competente e consistente na banda. Sal, como já citei, incorporou o espírito de Renato nas interpretações, com doses extras de inspiração, carregadas de muito sentimento bluesístico. O momento em que ele canta “A Volta do Boêmio” (Nelson Gonçalves) é prova viva do que estou falando — um ponto alto do show, além dos clássicos dos Bêbados, que já fazem parte da cultura local.
Agora, a performance do Lira é um show à parte: dá para perceber de longe a emoção e a energia vibrante que ele coloca nas batidas. As baquetas viram varinhas de bruxo nas mãos dele e, além das acrobacias, imprimem uma força poética alinhada à filosofia do blues — ritmo, intensidade e beleza. Pura magia. Eric é um monstro na bateria; ali é o lugar dele. Mas Lira entregou uma performance que não deixa dúvidas de que as músicas dos Bêbados já são extensão dos seus braços e se fundiram ao seu DNA. Sublime, nada menos do que isso.
Já passavam das 2h da madrugada de sábado quando o show chegou ao fim, mas parte da galera, ainda em êxtase, parecia não querer que a noite — ou a madrugada — terminasse. Uma catarse de sensações indescritíveis, o 5º ato de uma sexta maravilhosa.


MS ao Vivo no Parque das Nações — Domingo, com Kalelo e Vanessa da Mata
O show de abertura ficou a cargo de Kalelo, jovem talento sul-mato-grossense que iniciou a carreira em 2010 e, em 2017, passou a integrar o Projeto Kzulo, mantendo em paralelo seu trabalho solo. Já o conhecia de outras apresentações em bares, feiras e eventos da cidade, sempre com a sensação de que ali estava um artista a ser acompanhado de perto. Mas, no palco do MS ao Vivo, mostrou muito mais do que competência: revelou-se um músico completo, com domínio de palco e plateia, presença cativante e carisma acima da média.
O espetáculo começou com uma vigorosa intervenção poética de Eva Vilma, que preparou o ambiente para a explosão de energia positiva de Kalelo. O repertório mesclou músicas próprias e uma releitura intimista de Chico Buarque, além de momentos de generosidade ao dividir o palco com outros nomes da cena local. As participações abriram com um dueto emocionante ao lado do grande Jerry Espíndola, numa simbiose perfeita entre gerações. Depois, brilhou ao lado de Beca Rodrigues, em parceria empolgante e cheia de magia. E ainda houve espaço para o retorno do Projeto Kzulo, grupo que marcou sua trajetória e que, segundo Kalelo, está prestes a retomar a jornada.
Um momento de grande frisson foi quando o artista desceu do palco e caminhou no meio da multidão, cumprimentando as pessoas enquanto cantava. Ele foi até a metade da pista do parque e voltou com o mesmo entusiasmo — uma surpresa inédita nos shows do MS ao Vivo; que bom que foi um talento local quem nos proporcionou!

Kalelo encerrou agradecendo aos organizadores e revelando que tocar no MS ao Vivo era a realização de um sonho. Não apenas realizou: presenteou toda a cidade com um espetáculo digno do palco que ocupou.
Na sequência, veio a estrela da noite. Vanessa da Mata foi esplêndida, beirando a perfeição. Entregou leveza, beleza e emoção em cada detalhe — da iluminação ao figurino, da voz marcante à sintonia com a banda. Sua presença naturalmente gera grande expectativa, mas ela conseguiu ir além, conectando-se de forma espontânea com o público e guiando a plateia por uma viagem entre sucessos recentes e canções que marcaram sua carreira.
Um dos pontos altos foi a homenagem a referências da música brasileira, como Dona Ivone Lara, Diana e Gal Costa, culminando numa emocionante interpretação de “Um Dia de Domingo” — clássico imortalizado por Tim Maia — em dueto com seu diretor musical, Maurício Pacheco, que assumiu a voz masculina.
O show ainda trouxe surpresas, como uma ária de Puccini, executada com técnica e emoção — prova da versatilidade da artista. Uma apresentação emocionante do começo ao fim.

Roger Simmons Trio e Gabriel Noah Trio na Canalhas Cervejaria
Uns 10 minutos antes do final do show da Vanessa da Mata, decidi sair, para evitar o tumulto do trânsito, porque queria chegar rápido ao próximo destino, que era a Canalhas. Cheguei a tempo de ver as últimas músicas do Roger Simmons Trio, com o grande Roger nos vocais e guitarra, Luiz Henrique no baixo e Heitor na bateria. Eles desfilaram seu conhecido repertório, uma vez que Roger é figurinha constante na noite. Vindo de uma família musical que conta com artistas do calibre de Jane Jane e Rod Rivers, Roger entrega muita qualidade na sua apresentação, garantindo bons momentos à plateia, com o melhor do rock and roll.
O próximo show foi de Gabriel Noah e sua banda em formato guitarra, baixo e bateria. Noah é mais um artista da nova geração que já ocupa um lugar de destaque na cena local, por motivos muito óbvios: é um vocalista/guitarrista de mão cheia, entregando performances admiráveis a cada apresentação. Dono de uma voz privilegiada e atitude perfeita para o rock, Noah encanta a audiência com suas interpretações firmes e convincentes. No repertório, tem Rage Against Machive, System of a Down, Foo Fighters e Avenged Sevenfold, entre outros, que ganham força na voz do artista.
Com esta banda, fechei o final de semana mais musical dos últimos tempos, mostrando que Campo Grande tem muito agito bacana e que o rock pulsa firme nas veias dos habitantes dessa terra maravilhosa.
Falando em pulso, semana que vem tem banda Pulse Pink Floyd, do meu amigo Raphael Maia na Canalhas, sábado, 23 de agosto, ingressos já comprados. E já que estamos falando dos eventos da próxima semana, as entradas para o show em comemoração aos 60 anos da Jovem Guarda, pela galera do Coquetel Blue já estão garantidas também. O rolê acontece na sexta (22), na Canalhas. Vamos, sim ou com certeza?
A festa chega ao seu ato final
Foram cinco eventos, com nove atrações principais e participações especiais de nomes importantes da cena local — tudo isso em dois dias (sexta e domingo). Não fossem os compromissos, o sábado ainda rolou show do Paralamas do Sucesso na cidade.
Campo Grande respira cultura — e cabe agradecer ao Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura; à Prefeitura de Campo Grande, por meio da SeCult; e aos empresários locais da noite campo-grandense, que não medem esforços para proporcionar cultura de qualidade e entretenimento responsável na Cidade Morena.
Muito obrigado à Fundação de Cultura, à SeCult, à Canalhas Cervejaria e ao Blues Bar. Deixo para final o meu agradecimento a todos os artistas locais que nos brindam com seus talentos em vários dias da semana, todas as semanas. É uma honra e um privilégio morar numa cidade como a nossa!
Não é o retorno do Senhor dos Rolês, mas foi um final de semana digno do auge do projeto — para manter viva a memória daquela época.
Até o próximo rolê!

Texto e fotos: Guto Oliveira (@senhordosroles)

